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Hoje é Segunda-feira, 29 de Dezembro de 2025.
Em parceria com a Universidade de Glasgow, no Reino Unido, três universidades brasileiras vão desenvolver uma pesquisa voltada à redução dos impactos das mudanças climáticas em favelas do Brasil. O estudo será realizado até 2027 em comunidades de Natal, no Rio Grande do Norte; Curitiba, no Paraná; e Niterói, no Rio de Janeiro. A partir de janeiro de 2026, está previsto o lançamento de um edital com bolsas de pesquisa destinadas também a moradores dessas localidades.
O projeto, chamado Pacha — sigla em inglês para Análise Participativa para Adaptação Climática e Saúde em Comunidades Urbanas Desfavorecidas no Brasil — é coordenado pelo cientista brasileiro João Porto de Albuquerque, diretor do Urban Big Data Centre da Universidade de Glasgow. O financiamento, superior a R$ 14 milhões, é da fundação britânica Wellcome Trust, que apoia pesquisas nas áreas de saúde e mudanças climáticas.
No Brasil, participam do projeto a Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), por meio do Programa de Pós-Graduação em Gestão Urbana; a Fundação Getulio Vargas, pelo Departamento de Tecnologia e Ciência de Dados da Escola de Administração de Empresas de São Paulo; e a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
Segundo Paulo Nascimento, coordenador do Programa de Pós-Graduação em Gestão Urbana da PUC-PR, todos os municípios brasileiros são obrigados a elaborar planos de adaptação e mitigação climática, mas esses documentos costumam refletir principalmente a realidade da cidade formal. O projeto Pacha parte da premissa de que as favelas são pouco representadas nos dados oficiais.
A proposta é construir uma base de dados produzida coletivamente com os moradores das comunidades, de forma a gerar evidências que contribuam para revisar e aprimorar os planos de ação climática. A escolha de cidades em regiões distintas permite analisar diferentes contextos climáticos e compreender como as comunidades lidam com esses desafios no dia a dia.
O projeto também prevê a formação de pesquisadores comunitários. Além de bolsas de doutorado e pós-doutorado, haverá bolsas destinadas obrigatoriamente a moradores das favelas participantes. Esses pesquisadores atuarão no engajamento local e na produção e disseminação do conhecimento, garantindo que as capacidades desenvolvidas permaneçam nas comunidades após o encerramento do projeto.
Entre o fim de janeiro e o início de fevereiro de 2026, deverá ser lançado um edital específico para selecionar moradores interessados em participar da pesquisa em Curitiba, Natal e Niterói. A expectativa é que esses participantes atuem como multiplicadores dos resultados obtidos.
De acordo com o Censo de 2022 do IBGE, o Brasil possui mais de 12 mil favelas, onde vivem cerca de 16,39 milhões de pessoas, o equivalente a 8,1% da população do país. Essas áreas estão entre as mais vulneráveis aos efeitos das mudanças climáticas, como enchentes, deslizamentos, chuvas intensas e ondas de calor, devido à precariedade das moradias e à falta de infraestrutura adequada.
O projeto conta ainda com a parceria de instituições como a Fundação Oswaldo Cruz, por meio do Centro de Integração de Dados em Saúde, que utilizará bases como o CadÚnico para analisar recortes de renda, raça, gênero e idade. O objetivo é compreender como diferentes grupos dentro das comunidades são afetados pelos riscos climáticos e subsidiar políticas públicas mais sensíveis às desigualdades sociais e ambientais.
Os resultados finais do projeto Pacha devem ser divulgados no fim de 2027, com a expectativa de contribuir para a formulação de políticas públicas construídas a partir das realidades e necessidades das próprias comunidades. Com informações:Agência Brasil
