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Hoje é Quinta-feira, 25 de Dezembro de 2025.
A mãe do homem de 26 anos, inicialmente apontado como suspeito de estupro em Caarapó (MS), afirma que a família passou a viver sob ameaças após a divulgação precipitada da acusação. Segundo ela, o filho, que possui deficiência mental, diagnóstico de esquizofrenia e acompanhamento do CAPS, se tornou alvo de ataques nas redes sociais e em grupos de WhatsApp.
“Meu filho está sendo ameaçado. Dizem em todo lugar que vão atear fogo nele, que vão matá-lo. Chamam ele de inseto, monstro. Dizem que ele tem que morrer”, relatou a mãe.
A situação se agravou na noite de terça-feira, quando o caso ganhou repercussão. A filha da mulher, que tem hipertensão, passou mal após vídeos do irmão circularem na internet. A mãe contou que tentou falar com o filho na delegacia, mas foi impedida por um policial.
Ela contestou a versão inicial sobre o paradeiro do rapaz no horário do suposto desaparecimento da criança. Segundo a mãe, ele estava em outro endereço: havia saído da casa da irmã e ido até a casa do pai para tomar banho. Ela afirmou ainda que o filho não conhece a menina nem sua família e entrou em choque ao ser acusado.
Nas redes sociais, houve incitação à violência, com mensagens como “Taca fogo nesse fdp”, “Tem que matar uma praga dessa” e “Hospital de louco e chumbo na cara dele”, além de pedidos de linchamento e ataques à condição mental do homem.
A Polícia Civil informou uma mudança no entendimento inicial do caso. O delegado Ciro Carlos Jales afirmou que novas oitivas indicam que a menina, de 7 anos e diagnosticada com autismo, pode ter sido induzida por familiares a relatar um abuso que não encontra respaldo nas evidências apuradas até o momento.
“O suspeito foi liberado por ter álibi e por não corresponder às descrições mencionadas”, explicou o delegado.
O trabalho das forças de segurança é proteger a população e, ao mesmo tempo, conduzir investigações rigorosas para esclarecer a verdade dos fatos, garantindo que inocentes não sejam punidos injustamente.
As apurações apontaram que o local indicado nos relatos é uma área movimentada, com crianças brincando constantemente. Um laudo pericial oficial descartou a ocorrência de abuso ou ato libidinoso.
Mesmo com a liberação do filho, a mãe afirma que os danos já foram causados. “Como fica a vida dele agora? As ameaças continuam. Quero justiça”, declarou. Ela mantém áudios e vídeos com acusações feitas contra o rapaz, que depende do apoio familiar para cuidados básicos e recebe benefício social.
A inocência legal não trouxe paz. Trouxe o pesado fardo de carregar, para sempre, a marca de “estuprador” na mente de parte da sociedade que se recusa a atualizar seu julgamento. A mãe guarda os vídeos e áudios cheios de ódio como prova de um crime que não foi do filho, mas cometido contra ele: o crime de tentativa de destruição social e moral.
A narrativa se divide, portanto, em dois atos irreconciliáveis: no primeiro, um homem é condenado pela voz das multidões digitais; no segundo, a mesma multidão se dispersa em silêncio, deixando para trás os estilhaços de uma vida que a verdade oficial não foi capaz de reparar. A justiça do delegado corrigiu o processo, mas não pode curar a ferida aberta pelo linchamento público.
Conforme o boletim de ocorrência, a menina brincava perto de casa quando desapareceu por volta das 18h e foi encontrada por um vizinho em uma área de matagal, suja e assustada. Ela teria relatado a policiais que um desconhecido a chamou, a arrastou para o mato e tocou suas partes íntimas, após amarrá-la e colocar fita em sua boca.
O homem localizado pela Polícia Militar foi reconhecido pela criança por meio de fotografia, e o registro policial indicava que ele demonstrava nervosismo, tinha os pés sujos de terra e falava de forma desconexa. Inicialmente, o caso foi confirmado por atendimento médico e avaliação clínica, entendimento posteriormente revisto pela perícia oficial e pela Polícia Civil. Com informações Caarapó News.
