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Hoje é Terça-feira, 23 de Dezembro de 2025.
Pesquisadores da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), em parceria com a Universidade Federal do Rio Grande (Furg), realizaram um estudo inovador que revela que os líquidos de cigarros eletrônicos, conhecidos como “e-líquidos”, já apresentam toxicidade antes de serem aquecidos. Esta descoberta, publicada na revista Toxicology, é a primeira análise abrangente sobre o assunto no Brasil e traz à tona novos riscos para a saúde associados ao uso desses dispositivos.
A pesquisa foi conduzida com amostras obtidas por meio de doações de usuários de vapes. Os líquidos analisados foram divididos em categorias baseadas na origem, incluindo produtos do Brasil, China, Europa, Paraguai e Estados Unidos. Segundo os pesquisadores, esses produtos chegam ao mercado brasileiro de diversas formas, como contrabando, produção ilegal ou após passagem pela alfândega como material para consumo pessoal.
Embora a comercialização e propaganda de dispositivos eletrônicos para fumar sejam proibidas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) desde 2009, o consumo tem crescido consideravelmente desde o início do monitoramento, em 2019, conforme dados do Ministério da Saúde.
Testes e Descobertas
Os pesquisadores utilizaram dois tipos de células para testar a toxicidade dos líquidos: leveduras (Saccharomyces cerevisiae) e células de ratos. Os testes avaliaram o impacto na viabilidade celular, no metabolismo e na integridade celular, além de verificar se o dano era causado por estresse oxidativo. O estudo concluiu que a toxicidade dos líquidos depende da concentração e da composição química específica, e que a toxicidade aumenta conforme a concentração das substâncias.
Os líquidos de vapes contêm solventes como glicerina vegetal e propilenoglicol, além de aditivos como aromatizantes, nicotina e agentes que promovem a sensação de resfriamento. Os pesquisadores descobriram que a toxicidade desses líquidos é atribuída principalmente aos solventes, mas é intensificada pela presença de aditivos.
Além disso, a exposição das células a esses líquidos levou a uma redução na viabilidade celular e na atividade mitocondrial, mostrando que os produtos podem causar danos à saúde, tanto os de países onde a venda é proibida quanto os de países com regulamentação.
Limitações e Novos Caminhos
Apesar dos achados, os pesquisadores destacam que a pesquisa possui limitações. A quantidade de amostras analisadas foi reduzida (apenas 15), e o estudo não avaliou diretamente os impactos no corpo humano. Contudo, já estão sendo feitos novos investimentos para ampliar a pesquisa, com foco, por exemplo, na toxicidade dos metais presentes nos líquidos, especialmente nos descartáveis.
Carlos Leonny Raimundo Fragoso, autor principal da pesquisa, afirmou que a próxima fase do estudo incluirá a análise dos metais encontrados nos líquidos de vapes, além de biomarcadores de exposição a esses produtos. “Os líquidos descartáveis possuem uma quantidade altíssima de metais, e vamos avaliar como isso impacta na saúde”, afirmou.
Impacto no Debate sobre Saúde Pública
A cardiologista Jaqueline Scholz, especialista no tratamento do tabagismo, reforça a importância dos resultados da pesquisa, que confirma a toxicidade dos líquidos de vapes, independentemente de sua origem legal ou ilegal. Segundo ela, o estudo evidencia que a ideia de redução de danos, frequentemente associada ao uso de vapes em comparação com o cigarro tradicional, é falha, já que os riscos à saúde são evidentes.
“A pesquisa consegue comprovar, com a metodologia usada, que os líquidos de vapes representam um risco à saúde, mesmo sendo de produtos legais ou não”, comentou a especialista.
Embora os efeitos de longo prazo do uso de vapes ainda sejam incertos, especialmente devido à novidade dos dispositivos e à falta de dados abrangentes, estudos anteriores já apontaram a presença de metais pesados na fumaça dos vaporizadores e seus impactos no coração, pulmões e cérebro.
A pesquisa nacional realizada pela PUC-Rio e Furg traz novos dados cruciais para o debate sobre a saúde pública e o crescente uso de cigarros eletrônicos, sugerindo a necessidade de mais regulamentações e um acompanhamento mais rigoroso dos produtos no mercado. Com informações: Folhapress.
