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Hoje é Sexta-feira, 12 de Dezembro de 2025.
Os alimentos ultraprocessados ocupam cada vez mais espaço na rotina dos brasileiros. Presentes em lanches práticos, bebidas de caixinha, pães embalados, barras integrais e até em produtos vendidos como fit ou zero, eles compõem o grupo mais artificial segundo a classificação NOVA, criada por pesquisadores da USP, que organiza alimentos pelo grau de processamento.
Quanto mais distante um produto está de sua forma original e quanto mais depende de aditivos, espessantes, aromas artificiais e substâncias modificadas em laboratório, maior é seu grau de processamento. A endocrinologista e metabologista Jéssica Okubo explica que ultraprocessados incluem ingredientes que não existem na cozinha doméstica, como emulsificantes, corantes, amidos modificados e óleos interesterificados. A presença de comida de verdade, segundo ela, costuma ser mínima.
O modo mais simples de identificar um ultraprocessado é observar a lista de ingredientes. A nutricionista Mariana Ferrari, do Instituto Vencer o Câncer, afirma que listas longas e compostas por termos pouco familiares são um forte indicativo. Produtos que duram semanas sem estragar, apresentam textura idêntica e sabor padronizado também sugerem alto grau de processamento. Para o nutricionista e especialista em neurociência Gustavo Corrêa, alimentos com mais de cinco ingredientes já merecem atenção, especialmente quando grande parte deles é impronunciável.
Os efeitos no organismo vão muito além do excesso de açúcar, sódio e gordura. Esses produtos estimulam o consumo exagerado, pois são macios, palatáveis e pouco saciantes, favorecendo ganho de peso e aumentando o risco de diabetes, hipertensão e alterações metabólicas. A combinação industrial de açúcar, gordura e aditivos ativa de forma intensa o sistema de recompensa do cérebro, ampliando a liberação de dopamina e reforçando a busca por mais comida.
Dietas ricas em ultraprocessados alteram ainda os hormônios da fome e da saciedade, elevando a grelina e reduzindo hormônios como GLP-1 e PYY. Outro impacto importante ocorre no intestino: aditivos como emulsificantes afinam a camada de muco que protege a parede intestinal, facilitando a passagem de substâncias inflamatórias. O processo alimenta inflamação sistêmica, prejudica o metabolismo e pode contribuir para resistência à insulina. Esses sinais inflamatórios chegam ao sistema nervoso central e tornam o organismo mais sensível a estresse, irritabilidade e dificuldades de foco.
Há ainda estudos que apontam a presença de compostos como acrilamida e bisfenol entre consumidores frequentes, substâncias associadas a riscos hormonais e carcinogênicos. Especialistas reforçam que o problema não está em um único aditivo, mas no conjunto da obra, que afeta com mais intensidade organismos em formação, como crianças e adolescentes. A fase de crescimento exige nutrientes reais para a construção de circuitos cerebrais e para a formação da microbiota intestinal, o que torna esse grupo mais vulnerável.
Além de refrigerantes, salgadinhos e biscoitos recheados, há ultraprocessados que passam despercebidos, como iogurtes fit com aromatizantes, barrinhas feitas com xaropes, pães de forma integrais com conservantes, requeijões, queijos processados, leites vegetais industrializados e snacks saudáveis embalados. O apelo nutricional não garante qualidade, tornando essencial a leitura de rótulos.
Não há uma quantidade considerada segura. A recomendação é reduzir ao máximo, baseando a alimentação em produtos in natura e minimamente processados. O consumo eventual é tolerado quando a base da dieta é equilibrada. Para reduzir ultraprocessados na prática, especialistas sugerem pequenas trocas: optar por alimentos quase prontos, organizar refeições porcionadas, usar temperos naturais, manter opções rápidas e saudáveis disponíveis e criar o hábito de ler rótulos. Planejamento é essencial para que boas escolhas se tornem parte da rotina. Com informações: g1
