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Hoje é Domingo, 07 de Dezembro de 2025.
O “Corredor do Câncer”, como ficou conhecida uma faixa de aproximadamente 140 quilômetros entre Baton Rouge e Nova Orleans, no estado da Louisiana, é marcado pela presença de cerca de 200 fábricas de combustíveis fósseis e petroquímicas instaladas às margens do rio Mississippi. A região responde por um quarto da produção petroquímica dos Estados Unidos e, por décadas, acumula poluição no solo, no ar e na água.
Shamell Lavigne, que cresceu na área, descreve que o primeiro sinal da contaminação é o cheiro. Para ela, a região se tornou uma “zona de sacrifício”, onde comunidades pagam o preço da expansão global dos plásticos e da atividade industrial. Segundo Lavigne, os moradores se tornaram “o cordeiro sacrificial” para o consumo mundial de produtos descartáveis.
O apelido “Corredor do Câncer” reflete o risco elevado enfrentado pelos habitantes. Por anos, a área esteve entre os 5% com maior probabilidade de desenvolvimento da doença nos EUA. Em pontos específicos, estimativas apontam risco 50 vezes superior à média nacional. Pesquisas recentes da Universidade Johns Hopkins sugerem que as ameaças podem ser ainda maiores, possivelmente até 11 vezes acima do que o governo calcula.
Além do câncer, há registros de doenças respiratórias, problemas reprodutivos, defeitos congênitos e enfermidades autoimunes. Relatórios oficiais mostram a liberação contínua de poluentes tóxicos. Em sua própria família, Lavigne relata infertilidade, aborto espontâneo e problemas crônicos enfrentados por sua filha de 10 anos, que precisa limitar o tempo ao ar livre.
O racismo ambiental também faz parte da história do Corredor do Câncer. Joy Banner, que cresceu na região, afirma que só na vida adulta compreendeu que o problema tem raízes na escravidão. Antes da industrialização, plantations de açúcar predominavam, sustentadas pelo trabalho escravizado. Hoje, a maior parte dos moradores é negra, e estudos apontam que essas comunidades são desproporcionalmente atingidas pela poluição. A ONU já classificou o caso como racismo ambiental.
Para as irmãs Banner, o avanço das petroquímicas é resultado de regulamentação frágil e falta de fiscalização efetiva. Elas afirmam que empresas que excedem limites de emissão raramente enfrentam consequências severas e não são obrigadas a instalar monitores de poluição adequados. Pesquisadores da Johns Hopkins confirmam que há poucos medidores de qualidade do ar na região, insuficientes para refletir o que os moradores realmente respiram.
Apesar das dificuldades, há resistência crescente. Lavigne e sua mãe lideram uma organização que pressiona autoridades e instituições financeiras e desafia judicialmente a instalação de novas fábricas. Grupos locais já conseguiram barrar alguns projetos importantes nos últimos anos. Ainda assim, ativistas temem retrocessos diante de políticas que prometem ampliar a produção de combustíveis fósseis e flexibilizar normas ambientais.
Para os moradores, a luta é pela sobrevivência. Como resume Lavigne, impedir que a comunidade adoeça e morra prematuramente é o que os motiva a seguir. Com informações: g1
