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Técnicas inovadoras e saberes ancestrais transformam insumos da floresta em bebidas diferenciadas

Iniciativas na Amazônia e no Cerrado unem ciência, tradição e bioeconomia para criar produtos gastronômicos baseados em frutos nativos.
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Cristiana Vasconcelos realiza a brassagem de cerveja com frutos amazônicos e mel de agricultura familiar (Foto: Antonio Nassar/Amazônia Vox) Por: Editorial | 25/11/2025 13:54

Em uma rua arborizada do bairro Boa Esperança, em Cuiabá, a casa da historiadora Cristiana Vasconcelos se tornou um laboratório de experimentação gastronômica. Ali nasceu a Bakité Fermentadora de Biomas, iniciativa que combina pesquisa, gastronomia decolonial e saberes tradicionais para transformar frutas nativas em bebidas fermentadas e charcutaria vegana. A reportagem encontrou Cristiana em meio às dornas de madeira enquanto realizava a brassagem de uma cerveja produzida com mel de famílias do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, união entre agricultura familiar e inovação.

(Foto: Antonio Nassar/Amazônia Vox)

O nome Bakité deriva de “baquité”, cesto usado por mulheres indígenas para carregar alimentos e frutos da mata, simbolizando cuidado e ancestralidade. O empreendimento reutiliza resíduos da produção de cervejas e os transforma em pão de fermentação natural, reforçando a filosofia de respeito aos ciclos da natureza. Professora e pesquisadora, Cristiana encontrou na gastronomia uma forma de narrar histórias, ampliando o olhar decolonial para bebidas, fermentações e ingredientes tradicionais. Entre as criações estão cervejas com nó-de-cachorro, araçá-do-mato, semente de aroeira e aguardente de manga com frutos nativos. Espécies como babaçu, buriti, cagaita, baru, araticum e jenipapo compõem o repertório da Bakité, que consolida sua identidade na bioeconomia de base florestal.

A tradição também é transmitida de mãe para filha. O caderno de receitas herdado de sua mãe, de origem síria, influenciou a formação de Cristiana, que agora compartilha conhecimento com a filha, Morena Lopes Sanches, química responsável pelo controle de qualidade da empresa. Em 2024, Morena representou a Bakité no Amazônia Bio Summit, em Manaus, ampliando as conexões do empreendimento com investidores e iniciativas de inovação.

(Foto: Antonio Nassar/Amazônia Vox)

O fortalecimento feminino é um eixo central da atuação da Bakité. Cristiana desenvolve a Escola de Mulheres Cervejeiras, em parceria com a Associação de Moradores do Bairro Praeirinho, com previsão de início em 2026. Outro projeto envolve o Casarão das Artes, no bairro Pedra 90, oferecendo formação em fermentação e gastronomia a mulheres da periferia. Toda a produção segue princípios de rastreabilidade socioambiental, garantindo insumos livres de áreas degradadas e de trabalho escravo.

O Sebrae acompanha a trajetória da Bakité desde o início, apoiando registro de patentes e inserção em programas estratégicos. A empresa já foi finalista da ExpoFavela Mato Grosso (2023), do Startup Baixada Cuiabana (2023), alcançou o 2º lugar no Inova Amazônia (2024) e integra o Inova Cerrado (2025). Para o Sebrae Mato Grosso, o estado se destaca como polo de sustentabilidade, com políticas e estruturas voltadas ao desenvolvimento de negócios da bioeconomia.

No Pará, outras iniciativas seguem caminho semelhante. A AMZ Gin Tropical, fundada por Leandro Daher, transforma jambu e castanha-do-pará em destilados premiados nacional e internacionalmente. O Sebrae atua como parceiro na estruturação produtiva, desde capacitação tributária até apoio para buscar fornecedores na Ásia. A marca valoriza comunidades extrativistas e agricultores que fornecem insumos como jambu e castanha.

Também paraense, a Cervejaria Uriboca, fundada por Bernardo Pereira e Jéssica Leitão, destaca frutas amazônicas como cupuaçu, taperebá, bacuri e coco em suas receitas. A cervejaria acumula medalhas em competições nacionais e internacionais e trabalha com cooperativas locais, reforçando o conceito de “terruá” e fortalecendo a economia regional a partir dos sabores da floresta.

De Cuiabá a Belém, diferentes histórias se conectam pela bioeconomia aplicada. Em cada dorna, destilaria ou barril, ciência, ancestralidade e criatividade transformam insumos nativos em bebidas que expressam território, identidade e futuro. Com informações: Agência Sebrae




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