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Hoje é Sexta-feira, 31 de Outubro de 2025.
O orgulho de ser indígena e o fortalecimento das políticas públicas de reconhecimento cultural transformaram o retrato da diversidade no Brasil. Segundo o Censo Demográfico 2022, divulgado nesta sexta-feira (24) pelo IBGE, o país registra agora 391 etnias e 295 línguas indígenas, um aumento de 28% e 8%, respectivamente, em relação a 2010.
O levantamento revela também um crescimento expressivo da população indígena: 1.694.836 pessoas se autodeclararam indígenas, 90% a mais do que no último Censo. Desse total, 74,5% informaram sua etnia. As mais populosas são Tikúna (74.061 pessoas), Kokama (64.327) e Makuxí (53.446).
De acordo com o IBGE, esse aumento está diretamente ligado ao processo de autoafirmação identitária, impulsionado por políticas de valorização dos povos originários e pelo reconhecimento da importância de declarar sua ancestralidade.
“Nos últimos anos, se consolidaram condições mais favoráveis para a declaração do pertencimento étnico. Depois de décadas marcadas pelo racismo e pela invisibilidade, há hoje orgulho e valorização dessa identidade”, destacou Marta Antunes, gerente de Povos e Comunidades Tradicionais do IBGE.
O Censo 2022 também registrou um aumento de falantes de línguas indígenas: 433.980 pessoas de cinco anos ou mais — um crescimento absoluto em relação a 2010, embora o percentual tenha caído de 37% para 28,5% da população indígena.
As línguas mais faladas são Tikúna, Guarani Kaiowá, Guajajara e Kaingang.
Mesmo com a ampliação do uso do português nas Terras Indígenas, pesquisadores observam um fortalecimento das ações de revitalização linguística e da educação bilíngue. Em algumas regiões, como o Alto Rio Negro e o Parque do Xingu, o multilinguismo segue presente, com famílias que utilizam até três línguas em casa.
O número de etnias identificadas dentro das Terras Indígenas subiu de 250 para 335. Fora delas, o salto foi de 300 para 373. O avanço urbano é notável: a população indígena fora das Terras Indígenas cresceu de 405 mil para mais de 1 milhão de pessoas, com destaque para São Paulo, Manaus, Salvador e Brasília.
“Campinas, Foz do Iguaçu e cidades do Mato Grosso do Sul se tornaram polos de atração da população indígena, influenciadas por universidades, políticas de inclusão e mobilizações culturais”, observou Fernando Damasco, gerente de Territórios Tradicionais e Áreas Protegidas do IBGE.
São Paulo é o estado com maior diversidade étnica, registrando 271 etnias, seguido de Amazonas (259) e Bahia (233).
Entre as novidades metodológicas do Censo, está a possibilidade de declarar dupla etnia, permitindo que uma pessoa reconheça tanto a origem da mãe quanto a do pai. Jovens até 29 anos são os que mais recorrem a esse duplo pertencimento.
O levantamento também aponta avanços na alfabetização e melhorias no saneamento básico, embora persistam desigualdades significativas — especialmente entre os povos Yanomami, Guajajara e Tikúna, que enfrentam maiores dificuldades de acesso a água, esgoto e coleta de lixo.
“O Censo 2022 traz um retrato inédito da riqueza cultural e linguística dos povos indígenas do Brasil e reforça o papel da autoidentificação como ferramenta de resistência e valorização”, concluiu Marta Antunes.
Cominformações: Agencia GOV
