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Polícia cumpre mais de 80 mandados contra suspeitos de violência doméstica em Campo Grande

Operação focou em instalar tornozeleiras eletrônicas e monitorar descumprimento de medidas protetivas; Estado enfrenta alta nos casos de feminicídio.
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Policiais da Deam e do Garras durante operação que cumpriu mais de 80 mandados contra suspeitos de violência doméstica em Campo Grande. Foto: Divulgação. Por: Editorial | 12/09/2025 14:09

Polícia Civil de Mato Grosso do Sul e Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam) realizaram ontem (11) uma grande operação em Campo Grande, cumprindo mais de 80 mandados judiciais contra suspeitos de violência doméstica. A ação contou com apoio do Grupo Armado de Resgate e Repressão a Assaltos e Sequestros (Garras) e teve como alvo homens que descumpriram medidas protetivas de urgência, aproximando-se de vítimas ou tentando contato, mesmo sem chegar a cometer novas agressões físicas.

Segundo a delegada titular da Deam, Fernanda Piovano, a operação teve foco na instalação de tornozeleiras eletrônicas como forma de monitoramento. “Boa parte deles é por descumprimento de medida protetiva de urgência, mas um descumprimento que não configura crime grave a ponto de justificar prisão preventiva”, explicou. A medida, segundo ela, serve como alerta e tentativa de evitar a escalada da violência.

Os mandados estavam represados em razão da participação das equipes policiais em outras ações. Alguns investigados foram conduzidos coercitivamente para instalação dos equipamentos, enquanto outros foram intimados a comparecer voluntariamente — sob risco de prisão preventiva caso descumpram as ordens judiciais.

Feminicídios em alta

O esforço da polícia ocorre em um contexto preocupante. Apenas em agosto, mês dedicado ao combate à violência contra a mulher, Mato Grosso do Sul registrou três feminicídios e seis tentativas. As vítimas foram Salvadora Pereira, 22 anos; Letícia Ferreira Araújo, 25; e Érica Regina Moreira Mota, 26 — todas mortas por companheiros ou ex-companheiros em relacionamentos marcados por controle e abuso.

Com os crimes de agosto, o estado soma 23 feminicídios e 49 tentativas somente em 2025, conforme dados da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública de Mato Grosso do Sul (Sejusp). Janeiro foi o único mês do ano sem registros de mortes de mulheres por parceiros íntimos.

Medidas que não bastam?

A instalação de tornozeleiras eletrônicas, embora importante, é alvo de críticas por sua efetividade limitada. A socióloga Wânia Pasinato, referência nacional em estudos sobre violência de gênero, já alertava que “medidas protetivas são um avanço, mas ainda dependem de um sistema ágil e da responsabilização dos agressores para realmente salvarem vidas”.

O contraste entre os esforços judiciais e o aumento dos feminicídios expõe um descompasso histórico. Desde a criação da Lei Maria da Penha, em 2006, houve avanços institucionais, mas a estrutura de proteção ainda apresenta lacunas graves. Segundo o Atlas da Violência 2023, elaborado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 4.041 mulheres foram assassinadas no Brasil em 2021 — 61% delas negras.

Um problema social, não apenas policial

A operação evidencia que a violência contra a mulher não se resolve apenas com medidas imediatas de contenção. Trata-se de um fenômeno enraizado nas desigualdades de gênero e na cultura de impunidade. A jurista Silvia Pimentel, uma das redatoras da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher (CEDAW), reforça que “a violência doméstica não é uma questão privada, mas um problema público que exige resposta do Estado e da sociedade”.

Enquanto novas operações seguem em Mato Grosso do Sul, os números mostram que ações pontuais não bastam. A eficácia das tornozeleiras e das intimações judiciais precisa ser acompanhada de políticas públicas de prevenção, apoio às vítimas e responsabilização rápida e efetiva dos agressores. Com informações: Semana On.




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