O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), deu 24 horas para que a defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro se manifeste sobre possível violação de medidas cautelares, entre elas a proibição de uso de redes sociais. A decisão foi tomada após Bolsonaro aparecer em evento na Câmara dos Deputados exibindo a tornozeleira eletrônica, em gesto transmitido por aliados nas redes.
Impedido de usar suas próprias contas, o ex-presidente recorreu a parlamentares bolsonaristas para divulgar o evento, no qual ironizou a decisão judicial. “O que vale para mim é a lei de Deus”, declarou, desafiando abertamente o STF.
A encenação foi interpretada como tentativa de reforçar a narrativa de perseguição política, com potencial de gerar repercussões internacionais. Setores do governo dos Estados Unidos, pressionados por alas trumpistas, estudam medidas contra autoridades brasileiras, o que preocupa o Itamaraty.
As medidas impostas a Bolsonaro — como o uso de tornozeleira, toque de recolher, proibição de deixar Brasília sem autorização e uso de redes sociais — foram adotadas diante da suspeita de fuga do país. A estratégia, segundo fontes do STF, busca tensionar o sistema e manter a base mobilizada.
Simultaneamente, o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), também sob investigação, teve contas e bens bloqueados por Moraes. Investigado por articular ações nos EUA contra o STF, ele está fora do país, em licença não justificada, o que pode levar à cassação de seu mandato.
Nos bastidores, diplomatas e ministros veem uma tentativa articulada de internacionalizar a crise institucional, usando a retórica de perseguição para desestabilizar o governo Lula. A repetição de gestos provocativos e o uso político da humilhação pública integram uma estratégia que mina as instituições por dentro.
A reação do Congresso tem sido ambígua. Embora haja desconforto crescente, especialmente entre líderes do centrão, ainda não há uma resposta institucional contundente. O risco, avaliam analistas, é permitir que a escalada antidemocrática continue avançando sob o pretexto de liberdade política.
O episódio da tornozeleira sintetiza uma estratégia conhecida: provocar, vitimizar-se e enfraquecer as instituições. Mesmo fora do poder, Bolsonaro segue explorando as brechas da democracia para tentar manter vivo um projeto autoritário. Com informações: Semana On.