Por trás das grades do Instituto Penal de Campo Grande (IPCG), um cenário de concreto deu lugar à leveza de uma rede de vôlei e à esperança que cruzava de um lado ao outro da quadra. Em celebração ao Mês do Orgulho LGBTQIA+, a terceira edição do Torneio de Vôlei da Diversidade transformou por uma tarde o cotidiano da unidade prisional em resistência e afirmação de identidade.
A ação, promovida pela Secretaria de Estado da Cidadania, por meio da Subsecretaria de Políticas Públicas para População LGBTQIA+, em parceria com a Agepen, reuniu cinco equipes formadas por internas e internos da comunidade LGBTQIA+. Com arbitragem oficial e chaveamento elaborado pela Federação Escolar de Esporte de Mato Grosso do Sul (FEEMS), o evento reforçou o papel do esporte como ferramenta de inclusão e dignidade.
“Essa vitória é de resistência”, resumiu a capitã do time vencedor, uma das internas trans. “Aqui dentro, a gente é representada como é lá fora”, afirmou emocionada.
Mais do que uma competição, o torneio promoveu um momento de liberdade simbólica para os participantes. “Aqui dentro, o sol é limitado. Esse torneio foi mais do que brincar, foi existir”, disse outra interna trans, de 35 anos.
Para a policial penal e psicóloga Patrícia Gabriela Magalhães, a atividade também cumpre um papel fundamental no processo de ressocialização. “Elas voltam a ser vistas como indivíduos. Não são o crime que cometeram. São gente, e gente com possibilidade de mudança”, destacou.
Além da competição, a Secretaria de Cidadania distribuiu materiais informativos e ofereceu orientações à comunidade custodiada. Segundo Gaby Antonietta, coordenadora do Centro Estadual de Cidadania (CEC) LGBTQIA+, o esporte é um canal para que políticas públicas cheguem mesmo em espaços de privação. “A gente não quer nossos corpos só nas estatísticas de violência. Também somos sonho, amor e responsabilidade.”
O evento teve ainda um momento marcante com a presença de Emanuelle Fernandes, modelo e ex-interna do IPCG, que viveu 33 dias na unidade em 2017. “Voltar agora do lado de fora é quase surreal. Um evento como esse vira um lembrete de que existe um mundo possível.”
O torneio fez parte das atividades alusivas ao 28 de junho, Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA+, data que marca a Revolta de Stonewall e simboliza a luta mundial por direitos e reconhecimento da diversidade.Com informações: Agência de Notícias.