A alta dos preços dos alimentos, da energia e as incertezas econômicas globais levaram o Banco Central (BC) a aumentar novamente os juros.
Por unanimidade, o Comitê de Política Monetária (Copom) elevou a taxa Selic, juros básicos da economia, em 0,5 ponto percentual, fixando-a em 14,75% ao ano. A decisão já era esperada pelo mercado financeiro.
Este é o sexto aumento consecutivo da Selic, alcançando o maior nível desde agosto de 2006, quando também estava em 14,75% ao ano.
Em comunicado, o Copom não indicou o que ocorrerá na próxima reunião, em junho. A única menção foi de que o ambiente de incerteza continua elevado, o que exigirá cautela por parte da autoridade monetária, tanto em relação a possíveis novos aumentos quanto ao período em que a Selic permanecerá em 14,75% ao ano.
“O cenário de alta incerteza, somado ao estágio avançado do ciclo de ajuste e seus impactos ainda a serem avaliados, exige cautela adicional na política monetária, além de flexibilidade para ajustar conforme dados que impactem a inflação”, destacou o comunicado.
Essa alta reforça um ciclo de contração na política monetária.
Após alcançar 10,5% ao ano entre junho e agosto do ano passado, a taxa começou a ser elevada em setembro, com um aumento de 0,25 ponto, seguido por um de 0,5 ponto e três de 1 ponto percentual.
Inflação
A Selic é o principal instrumento do Banco Central para controlar a inflação oficial, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).
Em abril, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15), considerado uma prévia da inflação oficial, registrou 0,43%. Apesar da desaceleração em relação a março, os preços dos alimentos continuam a pressionar a inflação.
O indicador acumula alta de 5,49% nos últimos 12 meses, acima do teto da meta contínua de inflação. Os dados completos do IPCA de abril serão divulgados na próxima sexta-feira (9).
Pelo novo sistema de meta contínua, implementado em janeiro, a meta de inflação do BC é de 3%, com uma margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos. Ou seja, o limite inferior é 1,5% e o superior é 4,5%.
Nesse modelo, a meta é monitorada mês a mês, com base na inflação acumulada em 12 meses. Em maio de 2025, a inflação desde junho de 2024 será comparada com a meta e a margem de tolerância, e o mesmo procedimento será repetido em junho, com base nos dados a partir de julho de 2024.
No último Relatório de Inflação, divulgado no final de março, o BC elevou sua previsão para o IPCA em 2025 para 5,1%, mas a estimativa pode ser revista dependendo da evolução do dólar e da inflação. O próximo relatório será publicado no final de junho.
As previsões do mercado estão mais pessimistas. De acordo com o boletim Focus, a inflação oficial deve fechar 2025 em 5,53%, mais de 1 ponto percentual acima do teto da meta. Um mês atrás, as estimativas estavam em 5,65%.
O comunicado do Copom atualizou as previsões do BC sobre a inflação. A autoridade monetária espera que o IPCA chegue a 4,8% em 2025 (acima do teto da meta) e 3,6% no final de 2026. O BC adota um “horizonte ampliado” para a inflação, considerando o cenário até 18 meses à frente.
O Banco Central revisou suas estimativas de inflação. Na reunião de março, o Copom previa 5,1% para 2025 e 3,9% em 12 meses no fim do terceiro trimestre de 2026.
Crédito mais caro
O aumento da Selic ajuda a controlar a inflação, já que juros mais altos encarecem o crédito e desestimulam o consumo e a produção. Porém, essa medida também dificulta o crescimento econômico. No último Relatório de Inflação, o BC reduziu sua previsão de crescimento para a economia em 2025, estimando um aumento de 1,9% no PIB.
O mercado prevê crescimento semelhante. De acordo com o boletim Focus, os analistas preveem uma expansão de 2% do PIB em 2025.
A taxa Selic é utilizada nas negociações de títulos públicos no Sistema Especial de Liquidação e Custódia (Selic) e serve como referência para as demais taxas de juros da economia. Com a elevação, o Banco Central busca controlar o excesso de demanda que pressiona os preços, pois juros mais altos tornam o crédito mais caro e incentivam a poupança.
Ao reduzir a Selic, o Copom barateia o crédito, estimulando a produção e o consumo, mas enfraquece o controle sobre a inflação. Para cortar os juros, a autoridade monetária precisa estar convencida de que os preços estão sob controle e não correm risco de alta. Com infomações Agência Brasil