A raiva pode ser útil?
Sim — e muito mais do que parece. Embora muitas vezes seja vista como uma emoção negativa, a raiva tem uma função essencial para nossa sobrevivência e bem-estar emocional. Ela surge, geralmente, quando sentimos que algo ameaça nossos valores, nossos direitos ou nossa integridade. De acordo com a neurocientista Carla Tieppo, a raiva é uma emoção poderosa que nos tira da inércia e nos impulsiona a agir diante de situações que precisam ser transformadas.
A resposta do corpo à raiva é quase instantânea. Quando algo nos provoca, a amígdala cerebral — que detecta ameaças — envia um sinal de emergência. Com isso, hormônios como adrenalina e cortisol são liberados, aumentando os batimentos cardíacos, a pressão arterial e a tensão muscular. Esse processo prepara o corpo para enfrentar ou fugir da situação, um mecanismo herdado do nosso instinto de sobrevivência.
Apesar de sua função protetiva, a raiva costuma ser reprimida. Muitas pessoas aprendem desde cedo que demonstrar esse sentimento é sinal de fraqueza, grosseria ou falta de controle. No entanto, quando reprimida por muito tempo, a raiva pode causar prejuízos físicos e emocionais, como insônia, estafa, irritabilidade e até doenças psicossomáticas. Também pode dificultar a expressão de necessidades e o estabelecimento de limites.
O primeiro passo é reconhecer a emoção sem julgamento. Respirar profundamente, nomear o que está sentindo e se afastar da situação momentaneamente são estratégias simples e eficazes para recuperar o equilíbrio emocional. Técnicas como mindfulness, meditação e até o uso de palavras neutras (“janela”, “parede”) ajudam o cérebro a sair do modo reativo e a retomar o controle racional.
É importante lembrar que sentir raiva não é o problema — o desafio está em como reagimos a ela. Aprender a escutar o que a raiva está tentando nos dizer pode ser transformador. Ela pode indicar um limite desrespeitado, uma expectativa frustrada ou até uma dor antiga ainda não elaborada.
Se a raiva se manifesta com frequência, intensidade desproporcional ou de maneira violenta, pode estar sinalizando uma sobrecarga emocional ou traumas não resolvidos. Nesse caso, é fundamental buscar ajuda profissional. A terapia oferece um espaço seguro para entender a origem da raiva, desenvolver ferramentas de regulação emocional e transformar esse sentimento em força construtiva. Com informações BBC News Brasil.