O uso irregular de agrotóxicos em Mato Grosso do Sul tem crescido e gerado preocupação entre órgãos ambientais. Entre 2023 e 2025, a Agência Estadual de Defesa Sanitária Animal e Vegetal (Iagro) e a Polícia Militar Ambiental (PMA) flagraram 1.208 infrações em propriedades rurais. O número pode ser ainda maior, já que a PMA não divulgou dados de 2023.
Os principais problemas envolvem descarte e armazenamento inadequados, elevando o risco de intoxicação humana, contaminação do solo e poluição de rios e lençóis freáticos. Enquanto a Iagro e a PMA atuam na defesa da saúde e do meio ambiente, a fiscalização de pesticidas proibidos cabe a órgãos federais como a Polícia Federal, a Polícia Rodoviária Federal, o Departamento de Operações de Fronteira (DOF), o Ministério da Agricultura e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Somente em janeiro deste ano, o DOF apreendeu cargas de veneno agrícola ilegal avaliadas em mais de R$ 9 milhões.
Em meio a denúncias, a fiscalização ainda enfrenta desafios. Em fevereiro, fiscais do Ibama inspecionaram uma fazenda em Sidrolândia, após uma denúncia sobre a queima de embalagens e uso de agrotóxicos falsificados. No local, encontraram apenas produtos nacionais, alguns vencidos há mais de um ano, resultando em uma multa de R$ 324 mil ao responsável. No entanto, a superintendente do órgão no estado, Joanice Lube, admite que o combate ao uso de pesticidas ilegais precisa ser aprimorado. Para confirmar se embalagens possuem rótulos falsos, o Ibama precisaria de um espectrômetro, equipamento ainda não disponível no estado.
Além das irregularidades em propriedades privadas, comunidades indígenas no sul de Mato Grosso do Sul relatam os riscos das pulverizações aéreas, que podem afetar plantações, a água consumida e a saúde dos moradores. “As aldeias estão cercadas por plantações, e os aviões agrícolas passam por cima delas. Dependendo das condições atmosféricas, os produtos podem se espalhar por mais de 500 metros”, alerta Joanice.