À frente do Instituto Taquari Vivo desde 2021, o engenheiro agrônomo Renato Roscoe está encarregado de uma missão crucial para o futuro do Pantanal: a recuperação da bacia do Rio Taquari, um dos mais importantes afluentes do Rio Paraguai. Formado pela Universidade Federal de Viçosa (MG) e doutor em Ciências Ambientais pela Universidade de Wageningen, na Holanda, Roscoe falou à Globo Rural sobre os desafios e os avanços desse projeto, iniciado há três anos.
A iniciativa, composta por ambientalistas, pesquisadores, empresários e outros membros da sociedade civil, visa não apenas restaurar o rio e suas áreas degradadas, mas também promover o desenvolvimento sustentável no Pantanal. O Rio Taquari é um dos mais assoreados do Brasil, resultado da exploração desordenada desde a década de 1970. A ocupação descontrolada prejudicou tanto o meio ambiente quanto a própria atividade agropecuária, que depende dos recursos naturais para prosperar.
Segundo Roscoe, o progresso na recuperação do Taquari ainda é limitado. "O que temos feito são trabalhos-piloto de conscientização. Recuperamos 5.000 hectares, o que é importante, mas pequeno diante das necessidades da região", afirmou. Ele destacou que o maior avanço até agora foi a mobilização de atores locais e a obtenção de recursos estatais para a região. No entanto, a situação geral continua crítica, com a conscientização sendo o primeiro passo em um processo de longo prazo.
Roscoe explicou que a transformação desejada no desenvolvimento do Pantanal é geracional. "A mudança que estamos propondo é para 30 anos, não para cinco ou dez. Queremos mudar a forma como as áreas ao redor do Pantanal são exploradas", disse, acrescentando que o trabalho atual é uma "corrida de bastão", que será passada para futuras gerações.
A pecuária, principal atividade econômica da região, é tanto apontada como vilã da degradação ambiental quanto uma possível aliada da recuperação. "A pecuária predatória, sem manejo adequado, degrada o solo e carrega o estigma de ser inimiga do meio ambiente. Mas a pecuária moderna, com manejo sustentável, pode ser uma grande aliada da preservação", destacou Roscoe. Ele defendeu que a gestão adequada das pastagens e o controle do número de animais por hectare são essenciais para evitar a degradação ambiental.
Questionado sobre a adesão dos produtores rurais ao projeto de recuperação, Roscoe apontou quatro perfis principais: os que não percebem os impactos negativos de sua atividade, os que reconhecem o problema, mas não sabem como resolvê-lo, os que sabem o que fazer, mas não têm recursos, e aqueles que enfrentam dificuldades em agir coletivamente.
A seca histórica que atinge a região este ano tem agravado ainda mais a situação. "O produtor fica descapitalizado, o gado ganha menos peso e a rentabilidade diminui, dificultando ainda mais sua capacidade de investir em recuperação", disse Roscoe. Ele também mencionou que a seca prolongada afeta diretamente o processo de recuperação, desde o plantio de mudas até a renovação de pastagens, que dependem de chuvas para prosperar.
Sobre a possibilidade de o Rio Taquari voltar ao que era antes, Roscoe foi realista: "Nossa recuperação não visa isso, porque o rio mudou de curso. Hoje, 170 quilômetros do rio estão secos, enquanto 650.000 hectares de terras foram permanentemente inundados". As áreas alagadas, que eram fazendas produtivas, foram abandonadas, gerando um impacto ambiental e socioeconômico devastador.
A mensagem de Roscoe é clara: não existe atividade econômica sustentável em solo degradado. Ele enfatizou que a preservação dos recursos naturais é essencial para a continuidade da produção de alimentos, e que os interesses ambientais e produtivos devem estar alinhados. "Não há distinção entre meio ambiente e produção de alimentos, um depende do outro", concluiu. (Informações Globo Rural)