"As Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANCs) deveriam ser mais difundidas no Brasil", afirma Irany Arteche, nutricionista e mestre em Fitotecnia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Pioneira na defesa dos alimentos agroecológicos no país e na sua introdução na merenda escolar, ela ressalta: “Queremos que essas plantas se tornem convencionais, que estejam disponíveis nos mercados e feiras, pois são resistentes, nutritivas, saborosas, de baixo custo e espontâneas”.
Globo Rural: Como você se aproximou das plantas não convencionais?
Irany Arteche: Sempre tive uma predisposição para assuntos não convencionais relacionados à alimentação. Quando criança, levava para a escola pão com doce de chuchu, feito pela minha avó. Isso me fez entender que não era tão estranho experimentar, por exemplo, uma azedinha do canteiro.
GR: Qual é o significado da comida para você?
Irany: Vejo a comida como uma ferramenta de transformação. Sou uma nutricionista focada em comida, não apenas em nutrientes. Eu me considero uma nutricionista não convencional. Coordenei o Programa de Alimentação Escolar no Rio Grande do Sul por quatro anos e, nesse período, tive contato com um novo mundo, atendendo mais de um milhão de alunos. Cada um deles possui sua cultura, identidade e história, e não podemos adotar uma abordagem homogênea. Precisamos respeitar as diferentes realidades.
GR: Como você resolveu essa questão?
Irany: Ao entrar nesse universo da alimentação, conheci a agroecologia e tive a oportunidade de trabalhar com merendeiras e produtores incríveis. Entre 1999 e 2002, implementei um projeto pioneiro de merenda agroecológica no país, antes mesmo da legislação que priorizava alimentos orgânicos nas escolas e produtos da agricultura familiar. Ao final da minha gestão, consegui trazer a agricultura familiar e a merenda agroecológica para o ambiente escolar. Percebi que conhecia os alimentos, mas não sabia sobre sua produção. Depois dessa experiência, decidi fazer um mestrado em fitotecnia (hortas) e conheci Valdely Kinup, um botânico que estudava as plantas alimentícias não convencionais da região metropolitana de Porto Alegre. Ele me ensinou que, por exemplo, a urtiga é comestível e que a medula do jaracatiá também pode ser consumida, e eu fui cada vez mais me encantando com isso.