Os produtores de alimentos enfrentam um cenário desafiador devido às variações climáticas extremas e à seca persistente, que podem afetar os preços no varejo já em 2024. Thiago de Oliveira, economista da Companhia de Entrepostos e Armazéns de São Paulo (Ceagesp), adverte que essas condições adversas têm potencial para pressionar os preços dos alimentos no próximo ano.
Oliveira explica que a instabilidade climática, incluindo períodos alternados de calor e frio intensos, bem como a seca, impacta especialmente as culturas de cítricos, como laranjas e limões. O clima seco e instável compromete a produtividade e o tempo de colheita, além de favorecer o avanço do greening—a doença bacteriana transmitida por um psilídeo, que já levou à erradicação de mais de 2 milhões de pés de cítricos em São Paulo este ano.
"Se a umidade não melhorar significativamente, veremos um aumento considerável nos custos. Este impacto será inicialmente sentido nos preços atacadistas e logo se refletirá nos preços ao consumidor", afirma Oliveira.
No que diz respeito às hortaliças, tanto folhas quanto legumes, o impacto também deve ser notado em dezembro. Apesar da oferta recente ser boa, o clima seco favoreceu a maturação e colheita, mas prejudicou os ciclos de plantio e crescimento. O consumo de hortaliças e cítricos tende a aumentar nos meses de calor, o que pode agravar a situação.
Oliveira destaca que o último ano foi marcado por uma flutuação sazonal incomum, com frio e calor ocorrendo fora do esperado, o que complicou o planejamento dos produtores rurais. Pequenos produtores, que geralmente não possuem diversificação de culturas nem capital de giro suficiente, são os mais afetados por essas variações.
"Os pequenos produtores enfrentam maiores dificuldades devido à falta de recursos e capacidade de investimento. Muitos estão arriscando menos e evitando buscar capital para expandir suas áreas de cultivo", explica o economista.
Os valores de comercialização de frutas e verduras, que haviam mostrado uma tendência de queda, apresentaram sinais de recuperação. Dados da Ceagesp e do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) indicam uma recente queda nos custos de produtos da cesta básica, como tomate e batata. No entanto, Oliveira ressalta que a continuidade dessa tendência depende da distribuição das chuvas e da condição das áreas de produção.
Desde agosto, o estado de São Paulo tem enfrentado grandes queimadas exacerbadas pelo clima seco. Até segunda-feira (16/09), cinco municípios paulistas ainda tinham incêndios ativos. Apesar da redução dos focos de incêndio em 88% na última semana, graças a uma ação coordenada com 20 aeronaves e chuvas recentes, três municípios ainda enfrentam focos ativos: Itirapuã e Rifaina, na região de Franca, e Bananal, na Serra da Bocaína.
A Defesa Civil continua recomendando cuidados para evitar novas queimadas e mantém equipes em prontidão para monitorar as áreas afetadas, especialmente na região norte do estado, que ainda não recebeu chuvas suficientes.
A situação climática e suas consequências para a produção agrícola e os preços dos alimentos seguem sendo monitoradas de perto, com o objetivo de minimizar os impactos adversos para os produtores e consumidores.