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Seca no Cerrado afeta cheias dos rios amazônicos e intensifica crise hídrica

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Foto: REUTERS/Bruno Kelly Por: Editorial | 12/08/2024 15:47

A falta de chuvas no Cerrado brasileiro ao longo deste ano está impactando diretamente as cheias dos rios da Amazônia, que enfrentam um segundo ano consecutivo de seca severa, de acordo com previsões meteorológicas.

A situação é um reflexo de um El Niño forte, que já no ano passado causou a interrupção da navegação fluvial e isolou comunidades inteiras, prejudicando o transporte de cargas nas hidrovias. Neste ano, vinte municípios do Amazonas foram classificados como em situação de emergência pelo Governo do Estado. Alice Silva de Castilho, diretora de hidrologia e gestão territorial do Serviço Geológico do Brasil (SGB), explica que, “no ano passado, a seca foi mais generalizada, afetando tanto os afluentes da margem esquerda quanto da margem direita do rio Amazonas. Este ano, a situação é mais crítica nos rios da margem direita, cujas nascentes estão na região central do Brasil.”

O SGB, vinculado ao Ministério de Minas e Energia e responsável pelo monitoramento hidrológico dos principais rios brasileiros, tem registrado níveis abaixo da média nos rios Madeira, Tapajós e Xingu. O Madeira nasce em Rondônia, enquanto o Tapajós e o Xingu têm suas nascentes em Mato Grosso.

Mato Grosso, maior produtor de grãos do país, enfrentou seca na safra 2023/24 e deve colher 2 milhões de toneladas a menos do que o previsto inicialmente, segundo a Conab. Castilho observa que “as nascentes desses rios estão na região central do país, o que afeta diretamente a bacia amazônica, além do Pantanal.”

Com o período seco previsto até setembro, a seca deste ano é preocupante e pode atingir dimensões semelhantes às do ano passado. Castilho ressalta que “apesar de a situação não ser tão crítica nos rios da margem esquerda, a área de drenagem é muito maior na margem direita, o que indica uma estiagem mais severa.”

Bruno Ferreira, pesquisador do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) e membro da equipe Amazônia do MapBiomas, alerta que as perspectivas são ainda mais sombrias. Ele destaca que as chuvas no Norte, previstas para março, só chegaram em abril, aumentando a vulnerabilidade do bioma a outros problemas, como incêndios florestais. “Durante o período mais úmido, quando deveria chover mais, não houve chuva suficiente. Isso leva a uma expectativa de um período seco mais severo”, afirma Ferreira.

Com o El Niño forte de 2023, um fenômeno La Niña intensificado seria necessário para aumentar a umidade na região, mas a previsão é que o La Niña deste ano seja de fraca intensidade, incapaz de causar chuvas significativas na Amazônia até novembro. Ferreira acredita que as regiões mais afetadas serão as comunidades ribeirinhas ao longo dos rios Negro e Amazonas. “É um cenário devastador porque essa seca prejudica as pessoas que menos contribuem para as mudanças climáticas”, lamenta.

Adrimar dos Santos Vidal, presidente da Associação dos Moradores e Produtores Agroextrativistas da Floresta Nacional de Tefé e Entorno (APAFE), é um exemplo de ribeirinho impactado pela seca. Vidal estima uma redução de 25% na produção de frutos da floresta, como açaí, castanha e andiroba, devido à falta de chuvas. “Desde o mês passado, já enfrentamos vários dias sem chuva, tanto na cidade quanto na zona rural. Estamos esperando uma seca severa este ano, o que deve impactar muito a produção”, conclui.




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