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Hoje é Sexta-feira, 21 de Novembro de 2025.
Uma trágica notícia abalou a comunidade quilombola e os defensores dos direitos humanos: Maria Bernadete Pacífico, líder do Quilombo Pitanga dos Palmares e ex-secretária de Promoção da Igualdade Racial de Simões Filho (BA), foi assassinada na noite de 17 de agosto. Segundo relatos, criminosos invadiram o terreiro da comunidade, mantiveram familiares reféns e executaram Mãe Bernadete a tiros. Essa morte vem marcada pelo passado, já que ela é mãe de Flávio Gabriel Pacífico dos Santos, também conhecido como Binho do Quilombo, que foi assassinado há quase seis anos, em setembro de 2017. O governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues, ordenou uma investigação rigorosa por parte das polícias Militar e Civil.
Denildo Rodrigues, da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq), alega que Bernadete foi assassinada pelo mesmo grupo responsável pela morte de Binho. "Ela sabia e a Justiça sabia que quem mandou matar Binho estava por perto da comunidade. No entanto, nada aconteceu. Ela nunca ficou em silêncio. Agora foi silenciada. Uma perda triste para nós", lamentou Denildo.
Segundo ele, as lideranças das comunidades quilombolas e terreiros em Simões Filho estão constantemente ameaçadas por grupos ligados à especulação imobiliária, que desejam ocupar os territórios. O município está localizado na região metropolitana de Salvador. A capital da Bahia foi identificada pelo Censo Quilombola do IBGE como a cidade com a maior população quilombola do país, com quase 16 mil quilombolas e cinco quilombos oficialmente registrados.
A Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq) emitiu uma nota exigindo medidas imediatas do Estado brasileiro para proteger as lideranças do Quilombo de Pitanga de Palmares. A nota destaca que a família Conaq sente profundamente a perda de uma líder sábia e verdadeira. A Conaq afirma que a morte prematura de Maria Bernadete é uma perda irreparável para toda a comunidade quilombola e o movimento de defesa dos direitos humanos.
Uma comitiva liderada pelos ministérios da Igualdade Racial, Justiça e Direitos Humanos foi enviada para a Bahia para reuniões presenciais com órgãos estaduais. A iniciativa busca oferecer proteção e apoio às vítimas e familiares, além de fortalecer a defesa do território. O Ministério da Igualdade Racial convocou uma reunião extraordinária do grupo de trabalho de enfrentamento ao racismo religioso.
O Quilombo Pitanga dos Palmares, liderado por Bernadete, é composto por cerca de 289 famílias e abrange 854,2 hectares. A comunidade teve seu território reconhecido em 2017 pelo Relatório Técnico de Identificação e Delimitação do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). Embora certificada pela Fundação Palmares, o processo de titulação do quilombo ainda não foi concluído.
De acordo com a Rede de Observatórios de Segurança, a Bahia é o segundo estado com mais ocorrências de violência contra povos e comunidades tradicionais no Brasil, registrando 428 vítimas no período de 2017 a 2022, atrás apenas do Pará.
